terça-feira, 8 de maio de 2012

Maio: Melbourne, Austrália.

Cinco meses mais tarde, o que ainda vem à mente em primeiro lugar ao lembrar a minha experiência em Melbourne é a hospitalidade quase desconcertante. Em Dezembro, aí estive para apresentar uma comunicação, From Male to Female: Personified Death in Traditional and Contemporary Portuguese Storytelling, na Universidade de Victoria. Meses antes, ao procurar artistas activos em Melbourne, encontrei o blog da Storytelling Guild Victoria, acabando por entrar em contacto com duas narradoras cujos sites e outras informações na internet despertaram o meu interesse. Eram elas Julie Perrin e Jackie Kerin. E foram elas as minhas anfitriãs durante a minha estadia. As duas têm sites, que ficam aqui em Julie Perrin e Jackie Kerin, e o trabalho delas vale a pena conhecer.
Realizei entrevistas às duas e tive a oportunidade de filmar Julie em acção numa sessão muito interessante realizada numa igreja evangelista, contexto recorrente no seu trabalho. Foi possível compreender pelas entrevistas e outras conversas que a situação australiana relativa à actividade de narração oral parece semelhante a Portugal, cronologicamente e também a nível da presença na programação de escolas e bibliotecas. Do que me foi dado a saber, não tem lugar em Melbourne nenhum festival dedicado à narração, ainda que existam vários festivais folk que integrem narradores na sua programação. Há ainda uma boa quantidade de artistas e uma pesquisa ao blog da Guild pode ser interessante.
Interessante, ainda, e muito viva, é a actividade à volta do "spoken word" em pubs da cidade. Tive a oportunidade de assistir a uma delas - só uma por falta de tempo, porque a oferta era quase diária - e a qualidade das performances era contagiante. De papel na mão ou não, mais ou menos ritmadas, mais ou menos narrativas, as prestações dos autores-performers, ainda que esteticamente cuidada, era muito coloquial e próxima, muitas vezes dialógica, e a sensação era de facto estar a partilhar um bom momento à volta das palavras.

Deixo aqui o link the um lindo video feito a partir de uma história de Jackie Kerin, Edith's Lyrebird, que vale a pena e que é um bom exemplo do magnífico repertório desta narradora.

Luís Correia Carmelo

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Janeiro: Alden Biesen

Pelo 3º ano consecutivo a língua portuguesa marcou presença no Vertel-Festival de Alden Biesen. A 16ª edição decorreu entre 14 e 22 de Março de 2011 e tocou-me a mim, sob indicação de Pep Bruno, assegurar a participação portuguesa.

Surpreendeu-me muito o convite para ir à Bélgica contar histórias em português. Surpreendeu-me um festival de narração oral, bem no centro da Europa (a 12 Km de Maastricht/Holanda, a 45 de Aachen/Alemanha e a 70 km de Givet/França) que promove diversas línguas europeias: Alemão, Francês, Inglês, Italiano, Espanhol e Português. Uma festa!

Na sessão nocturna tive aproximadamente 50 almas, tudo gente adulta enquadrada num programa de educação de adultos. Gente ordeira, de boa escuta e interessados na cultura portuguesa. No final bebi um copo com parte do grupo, conheci algumas das professoras no eixo desta mobilização e compreendi um pouco melhor a lógica do programador deste evento, Guy Tilkin.

Cumprida a missão, o dia seguinte estava reservado à escuta e aproveitei quanto pude. Em língua francesa dei conta das dificuldades de Teresa Amoon, com recurso a histórias de vida, em motivar uma alheada plateia de 130 adolescentes. Em língua inglesa, ouvi quatro narradores e todos recorreram a temas tradicionais. Do Canadá, com alguns contos singulares, Dale Jarvis e do Reino Unido, Daniel Morden, David Ambrose e a acutilante, seca, frontal, Jan Blake, com dois contos magistralmente costurados que lhe permitiram 40 minutos tensos e sem quebras de ritmo, isto frente a uma plateia de 250 silenciosos adolescentes… Não terá sido por acaso que os alemães recentemente a escolheram para ser a primeira narradora não alemã a receber o Thüringer Märchen Preis.

Magnífico seria podermos reforçar a presença da língua portuguesa neste festival. Porque não sonhar com a mobilização de grupos de jovens que estudam a nossa língua, ou simplesmente com a mobilização de alguma da comunidade portuguesa que, num fim-de-semana primaveril, se aventurasse até ao magnífico castelo de Alden Biesen.
A próxima edição está prevista para Abril e vai lá estar o meu amigo Luís Correia Carmelo. 

António Fontinha, Janeiro de 2012

domingo, 16 de outubro de 2011

Outubro: Festival Internazionale Raccontamiunastoria


Entre 29 de Setembro e 2 de Outubro estive em Roma na 3ª edição do Festival Internazionale di Storytelling, organizado pela Compagnia di Storytelling Raccontamiunastoria. O evento teve lugar nas instalações do Parco dell´Appia Antica, a sul de Roma, que é o tipo de lugar em que qualquer pedregulho conta uma história. O espaço, com várias salas e um anfitiatro, associado ao “ottobre romano”, período de tempo ameno e céu azul, proporcionaram um ambiente descontraído e animado. Entre os passeios pela cidade e as intervenções que me cabiam, tive oportunidade de ver trabalhos que me encantaram.
A primeira memória vai para a sessão do galês Michael Harvey, que contou a narrativa de Branwen e Bran, num estilo limpo, consistente, técnico, mas com um humor muito descontraído. Depois, David Ambrose, também do País de Gales (e responsável pelo festival Beyond the Border), com outra narrativa galesa, Taliesin, num estilo de mais proximidade, também por causa do espaço. No conjunto, foi uma injecção de mágico e maravilhoso que me deu vontade de realizar novas experiências nesse universo. Depois, vi também Heidi Dahlsveen, da Noruega, numa sessão que, ao contrário das dos dois galeses, não se centrava apenas numa história. Novamente, era um trabalho maduro e consistente. O seu estilo era bastante sonoro e musical, com jogos de palavras e ritmos, em inglês e, portanto, não na língua materna, e que conseguiu dar um ar da sua graça mesmo com a tradução simultânea. Com efeito, todos fomos traduzidos simultaneamente, do inglês para o italiano, às vezes com melhores resultados, às vezes, menos, mas sem nunca prejudicar demasiado o desenvolvimento das histórias e o envolvimento entre narradores e audiência.
Ficou também na memória o espectáculo de Chiara Visca (narração) e Armin Barducce (animação), centrado no jogo entre a narração e a animação simultânea projectada. O corpo da narradora interagia com as animações que, ora surgiam como cenário, ora como elemento gráfico de discurso paralelo (por exemplo, enquanto a narradora dizia algo, surgia, saindo da sua boca - já que ela naquele momento estava no campo da projecção – um balão em que o animador escrevia, simultaneamente – a própria mão projectada – um outro texto dizendo justamente o contrário), ora como personagens que interagiam com a narradora, etc. Foi das surpresas mais agradáveis e dos momentos mais bem passados no festival.
Estiveram presentes muitos outros artistas, como Giovanna Cavasola, do México, e Frida Marrone, de França, Mariella Bertelli, do Canadá, entre outros, e claro, um conjunto de narradores da companhia organizadora. Fundada em 2005, a Compagnia di Storytelling Raccontamiunastoria, é dirigida por Paola Balbi e Davide Bardi, dois artistas empenhadíssimos na divulgação da narração oral e que conseguiram por de pé um festival com pouquíssimos apoios e meios. Para o ano que vem não há festival porque a companhia estará concentrada no trabalho para 2013, ano em que receberão em Roma a reunião anual da Federation of European Storytelling.

Luís Correia Carmelo

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Julho: Federation of European Storytelling

A “Federation of European Storytelling” é uma organização que reúne estruturas e projectos dedicados à narração oral a nível europeu. Reúne representantes de mais de dez países através de mais de vinte organizações.
O primeiro encontro do qual resultaria o projecto da FEST teve lugar em Oslo no Verão de 2008, numa iniciativa conjunta de Heidi Dahlsveen (Noruega), Mats Rehnmanm (Suécia) e Abbi Patrix (França). O segundo encontro, realizado no Verão de 2009 em Lausanne, contou com a participação de três organizações portuguesas (Trimagisto, Contabandistas e Palavras Andarilhas). Em 2010, o encontro teve lugar em Reading, infelizmente sem nenhuma participação portuguesa.
Agora, em Junho de 2011, o encontro foi realizado em Toledo numa organização da AEDA (Asociación de Profesionales de la Narración Oral en España), e dele resultou os estatutos da futura associação internacional que dará corpo legal à federação, bem como a sua primeira direcção executiva, formada por Guy Tilkin (Bélgica), Teresa Amoon (França), Charo Pita (Espanha), Paola Balbi (Itália) e Rose-Marie Lindfors (Suécia).
Os próximo países a receber a reunião anual da FEST serão a Bélgica, em 2012, a Itália, em 2013, e a Suécia, em 2014.
A “Ouvir e Contar” será, após finalizado o processo de legalização da associação internacional, a estrutura representante de Portugal no FEST. Para qualquer informação, contactem-nos. 
Está também em construção um site da federação onde poder-se-á encontrar mais informações sobre os encontros e os projectos a decorrer.
 
Luís Correia Carmelo